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Apresentação

Abstraindo-se da questão relativa à existência do mundo exterior, a fenomenologia focaliza-se exclusivamente no vivido, isto é, nas experiências de consciência. Esta abordagem filosófica procura partir do fenómeno bruto que surge diante de nós ou, mais precisamente, no interior da nossa consciência. Não se trata tanto de definir a essência daquilo que se manifesta, mas mais propriamente de descrever a pura manifestação enquanto tal. Estabelece-se, assim, uma ligação entre a fenomenologia e a teologia, nem que mais não seja pelo facto de ambas as disciplinas assumirem a ‘manifestação’ (ou ‘revelação’) como categoria fundamental.


Apesar desta evidente proximidade lexical, fenomenólogos como Dominique Janicaud procuraram evitar uma abordagem que colonizasse a fenomenologia com considerações do foro teológico. Na esteira de Husserl e Heidegger, o rigor da ciência fenomenológica impediria, segundo essa perspetiva, a interação com a Revelação bíblica: seria, então, de rejeitar todo o dado exterior à experiência concreta que nos é dada viver. Foi nesse contexto que surgiu a expressão “viragem teológica da fenomenologia”, expressão esta que pretendia nomear uma deriva em relação ao projeto filosófico iniciado por Husserl.


Contudo, ao longo da segunda metade do século passado, ocorreu, sobretudo em ambientes francófonos, uma crescente aproximação entre a fenomenologia e certas abordagens teológicas de inspiração judaico-cristã. Esta tendência parece manter-se viva até aos dias hoje. Por um lado, a fenomenologia oferece um quadro conceptual e metodológico que permite aprofundar determinadas afirmações teológicas, tais como o homem capax Dei e o sofrimento de Deus. Por outro lado, a questão de saber como é que o Ser divino e transcendente pode manifestar-se aos seres humanos confronta a fenomenologia com os seus próprios limites, colocando no seu horizonte uma possível abertura a temas teológicos. A fenomenologia surge, assim, como possibilidade de um novo encontro entre filosofia e revelação (no sentido teológico do termo).


Na III.ª Jornada de Filosofia de Religião, propomo-nos visitar o pensamento de quatro fenomenólogos que arriscam cruzar a fronteira entre filosofia e teologia. Será analisada, em concreto, a relação entre fenomenologia e teologia em Emmanuel Levinas (1906-1995), Michel Henry (1922-2002), Jean-Luc Marion (1946-) e Emmanuel Falque (1963-).

Apresentação: Sobre
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